Magnificent Seven: Alerta de Bolha ou Revolução?

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Paul Krugman tem chamado a atenção para as semelhanças entre o frenesi atual em torno de Inteligência Artificial (IA) e a bolha da tecnologia que vivenciamos no fim dos anos 90. Ele salienta que as Magnificent Seven — Apple, Nvidia, Meta, Microsoft, Tesla, Alphabet e Amazon — atingiram valorizações impressionantes, evocando o clima de 1999–2000. Contudo, mesmo projetando que a IA pode impulsionar a produtividade de forma semelhante ao salto da TI entre 1995 e 2005, Krugman questiona se essas projeções ousadas justificam os preços astronômicos que vemos hoje.

O paralelo com a bolha de telecomunicações dos anos 90 também não passa despercebido. Naquela época, muitas empresas contraíram dívidas gigantescas na esperança de capturar um mercado que ainda estava em formação. O resultado? O faturamento não conseguiu acompanhar a euforia, e a bolha estourou de forma retumbante. O cenário atual, no entanto, apresenta diferenças sensíveis. Há planos de investimento que ultrapassam 300 bilhões de dólares para IA só neste ano, e os números de vendas efetivas crescem em ritmo acelerado. O caso da startup Cursor, que chegou a 100 milhões de dólares em ARR em tempo recorde, é um sinal desse mercado aquecido e de uma adoção que aparentemente não para de crescer.

A comparação não se restringe apenas às cifras bilionárias. Nos anos 90, pairava no ar uma quase ingênua crença de que toda novidade digital se converteria, quase que magicamente, em receita. Hoje, o contexto é mais maduro: já se sabe que a adoção de IA exige infraestrutura robusta, talentos especializados e a disposição de reformular processos internos. Esses aspectos elevam os custos e demandam comprometimento estratégico por parte das empresas. Ainda assim, a disponibilidade de capital de risco, aliada à capacidade de escalar soluções globais quase instantaneamente, vem contribuindo para alimentar valuations que, para muitos, ultrapassam o razoável.

Nem tudo são flores, é claro. Barreiras de implementação, desde questões regulatórias até a falta de mão de obra qualificada, impedem um avanço ainda mais acelerado. A despeito disso, o potencial de transformação da IA se compara mais a uma revolução industrial do que a uma moda passageira. Se, de fato, a IA se consolidar como força-motriz capaz de assumir — ou otimizar — frações significativas do trabalho humano, a perspectiva de que as empresas líderes alcancem valores de mercado cada vez maiores não soa tão utópica.

Ao fim do dia, a dúvida que resta é sobre a intensidade e a velocidade dessa curva de adoção. Muitos acreditam em uma verdadeira disrupção, que poderia justificar as avaliações atuais. Outros enxergam um repeteco do boom e do subsequente estouro de duas décadas atrás. Krugman, por sua vez, pondera que os ganhos de produtividade podem, sim, ser enormes; mas ainda não há certeza de que a IA compensará, de imediato, os valuations estratosféricos. No entanto, caso esse salto produtivo se torne tão concreto quanto o impacto da TI nos anos 90, é bem possível que o padrão de amanhã seja o que hoje chamamos de exagero.

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Bruno Rodrigues
Por Bruno Rodrigues