Na semana passada, o Papa Francisco, ou Papa Bergoglio, faleceu. A notícia abalou milhões ao redor do mundo. Mas, junto com a comoção, veio também o ruído. Imagens circularam rapidamente pelas redes sociais: algumas emocionantes, outras estranhas, muitas simplesmente falsas. Em meio ao luto, um fenômeno antigo se repetiu com novas ferramentas: a manipulação da realidade.
O jornal The Guardian publicou recentemente uma coletânea de imagens que, ao longo da história, enganaram até os mais atentos. São registros que remontam ao século XIX, quando as primeiras fotografias eram alteradas manualmente para excluir pessoas, alterar expressões ou simplesmente embelezar os fatos. A tecnologia evoluiu e as mentiras visuais evoluíram junto. Hoje, vivemos a era dos deepfakes: imagens criadas por inteligência artificial com altíssimo grau de realismo. Um exemplo emblemático foi a viral imagem do Papa usando uma jaqueta da Balenciaga: falsa, mas convincente o suficiente para enganar milhões por alguns dias.
O que está em jogo não é apenas a veracidade das imagens, mas o próprio valor da imagem como testemunho da realidade. Houve um tempo em que ver era crer. Uma fotografia servia como prova incontestável de um fato. Hoje, ver é apenas o primeiro passo de uma investigação. A relação entre imagem e verdade se fragmentou, e a inteligência artificial está acelerando essa ruptura a um ritmo sem precedentes. O que antes exigia equipamentos sofisticados e horas de edição agora pode ser feito por qualquer pessoa com acesso à internet e um aplicativo gratuito.
Esse cenário se agrava ainda mais em um mundo já profundamente polarizado. Em tempos de bolhas informativas, o conteúdo falso não precisa ser plausível, ele precisa apenas confirmar o que o receptor já deseja acreditar. A mentira bem construída tem poder, mas a mentira conveniente tem mais ainda. A desinformação não disputa espaço com fatos; ela opera no território das crenças e das emoções. Por isso, combater fake news é tão difícil: não se trata de provar o que é verdade, mas de enfrentar aquilo que as pessoas querem que seja verdade.
Ainda assim, a verdade não desapareceu. Ela existe. Está presente nos dados verificáveis, no jornalismo responsável, na investigação cuidadosa dos fatos. Mas o caminho até ela se tornou mais longo, mais exigente e, muitas vezes, mais solitário. Procurar a verdade requer esforço, disposição para o desconforto e, acima de tudo, uma certa humildade! A disposição de aceitar que talvez estejamos errados.
No fim, a pergunta essencial não é se ainda existe verdade no mundo, ela existe. A questão real é: quantas pessoas ainda estão dispostas a procurá-la?