E se a próxima revolução da IA estiver nascendo onde menos esperamos?

E

A maior parte da atenção em torno da inteligência artificial hoje está concentrada em setores que já estão digitalizados há anos, como jurídico, financeiro, compliance, marketing. Nesses campos, os avanços são reais, mas seguem um percurso previsível: automação de tarefas, otimização de decisões, aumento de produtividade.

Mas e se os próximos grandes saltos da IA não vierem daí? E se surgirem justamente em setores onde o digital ainda engatinha?

É aqui que entra o conceito de leapfrogging: quando uma tecnologia permite que um setor, empresa ou até país salte etapas de desenvolvimento, pulando diretamente do analógico para o inteligente. Sem precisar passar pelos mesmos ciclos de transição digital que outros já enfrentaram. Sem os sistemas legados que travam a inovação. Sem a resistência de quem tem muito a perder.

Áreas como construção civil, hotelaria, operações industriais de menor escala ou até serviços urbanos em cidades médias são exemplos claros. Setores em que muitos processos ainda são manuais, desconectados, fragmentados. Justamente por isso, estão potencialmente prontos para uma adoção mais direta de soluções baseadas em IA, desde que essas soluções sejam acessíveis, simples de usar e pensadas para a realidade do chão de fábrica ou da linha de frente.

Em vez de substituir um software antigo, a IA pode entrar como a primeira camada digital de verdade nessas operações. Isso muda tudo. Em termos práticos, estamos falando de sensores inteligentes em obras, assistentes de decisão em tempo real para recepcionistas, previsão automatizada de falhas em maquinário, análise de dados de operação em empresas que nunca olharam para dados antes.

Esse movimento exige uma mudança de foco de quem constrói tecnologia. É fácil pensar para quem já está digitalizado. Difícil — e mais promissor — é pensar para quem ainda não está.

A verdadeira revolução da IA pode não estar nos setores com dashboards sofisticados e CRMs avançados. Pode estar nas planilhas improvisadas, nos cadernos de anotações, nos rádios de comunicação e nas decisões tomadas “no feeling”.

Às vezes, o futuro começa onde ninguém está olhando.

Sobre o Autor

Bruno Rodrigues
Por Bruno Rodrigues