Além do Modelo: o que Realmente Cria Valor em Produtos com IA

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Nos últimos anos, houve uma explosão de soluções que empacotam grandes modelos de linguagem em interfaces simples. Ferramentas que conectam GPTs a chats, workflows ou assistentes de tarefas cresceram rápido, ajudadas pelo fascínio inicial com a capacidade de gerar texto fluido e respostas em linguagem natural. Mas à medida que a tecnologia se torna acessível e fácil de replicar, surge um desafio inevitável: o diferencial técnico deixa de ser suficiente.

Esse movimento repete padrões que já vimos em outras ondas tecnológicas. Quando o acesso à infraestrutura se torna comum, a vantagem competitiva migra para outros territórios. Produtos deixaram de competir apenas por capacidade computacional ou eficiência algorítmica e passaram a ser avaliados por sua capacidade de atrair e reter usuários. Foi assim com navegadores, sistemas operacionais, redes sociais, apps de mobilidade. E será assim com ferramentas baseadas em IA.

A diferença real começa a surgir quando o produto consegue se tornar parte do fluxo de trabalho, gerar vínculo e construir um ecossistema em torno da experiência. Isso exige atenção a temas que parecem menos técnicos, mas são decisivos: distribuição, usabilidade, efeitos de rede, comunidades ativas, integração com sistemas existentes. São esses elementos que criam barreiras reais à concorrência. Um bom wrapper de GPT pode ser replicado. Uma base engajada de usuários, não.

Na próxima fase da adoção em larga escala, o que vai diferenciar os vencedores não é apenas o modelo usado, mas a forma como ele se encaixa na vida do usuário. As soluções mais fortes serão aquelas que criam espaços de participação, colaboração e aprendizado coletivo. Produtos que deixem de ser apenas canais de resposta e passem a operar como plataformas, com conteúdo, contexto e envolvimento contínuo.

O modelo de linguagem continua sendo uma peça central. Mas está longe de ser o fim da história. A nova corrida da IA não vai premiar quem constrói o chatbot mais avançado. Vai premiar quem conseguir transformar tecnologia em relacionamento e código em comunidade.

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Bruno Rodrigues
Por Bruno Rodrigues